7 filmes sobre a época da Ditadura Militar que merecem ser vistos

O Dia que Durou 21 Anos: Castelo Branco, sem quepe, articulador e primeiro presidente do regime militar no Brasil.
O Dia que Durou 21 Anos. Castelo Branco (direita, sem quepe), um dos articuladores do golpe e primeiro presidente do regime militar. Divulgação/Pequi Filmes.

Listas sobre filmes que abordam o período da ditadura militar no Brasil existem aos montes pela internet. O projeto História Ilustrada já divulgou algumas delas em outras ocasiões.

Dessa vez, trazemos algo diferente: preferimos elaborar uma seleção de filmes que mostram de forma diversificada o que foi viver naquela época. Talvez você já tenha visto alguns, talvez você conheça apenas de nome e sempre teve curiosidade de assistir, talvez você nunca tenha ouvido falar de tal filme.

O importante é que você entenda a ideia que está sendo passada aqui: nenhuma análise acerca de qualquer período da história será satisfatoriamente construída se for embasada somente num contexto exclusivamente político.

Por isso, tentamos trazer alguns títulos que têm a ditadura seja como pano de fundo, como personagem atuante ou simplesmente como coadjuvante, enquanto o momento cultural, social ou político é abordado com mais contundência pelos autores dos filmes.


O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006)
Cena do filme O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias.
Cena do filme O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (Globo Filmes/2006)

Este delicado filme de Cao Hamburguer mostra o drama infantil vivido por Mauro, um garoto que recebe a notícia de que seus pais saíram de “férias”.

Seus pais, militantes de esquerda contra a ditadura, em pleno ano de 1970, logicamente não tinham embarcado numa viagem para se divertir, mas nada disso é contado a Mauro, que após a morte do seu avô é obrigado a morar com o vizinho em São Paulo.

E é nesse ambiente de solidão, introspecção e isolamento dos demais, que a criança é colocada, envolta numa sociedade setentista sob o regime militar (recriada de forma impecável) e tendo a Copa do Mundo também como background.

Não espere um filme político, explícito e que fale sobre a ditadura. Espere um retrato interessantíssimo da história de um grande número de crianças e famílias que foram afetadas diretamente pela situação política no Brasil.




Cabra Marcado para Morrer (1985)
Personagens bem reais do documentário Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, na década de 1980.
Personagens bem reais de Cabra Marcado para Morrer (Gaumont do Brasil/1985)

Este é considerado por muitos um dos melhores filmes do Eduardo Coutinho, um dos maiores cineastas brasileiros e que infelizmente não está mais entre nós. O longa caminha entre linguagens documentais e ficcionais, mas com uma razão muito coerente para isso.

A ideia de “Cabra Marcado para Morrer” era a de uma obra semidocumental acerca da vida de João Pedro Teixeira, líder camponês paraibano que foi assassinado no ano de 1962O grande problema é que o projeto foi interrompido graças ao golpe militar. 

Coutinho só conseguiu retomar esse trabalho no ano de 1985, abrangendo de forma mais ampla o tema do filme, mostrando os personagens reais que participariam da concepção inicial e contando a história das ligas camponesas de Galiléia e Sapé.

O documentário possui vários momentos interessantíssimos que mostram a manipulação de informações durante o período da ditadura, seja através de comunicados oficiais dos militares ou até mesmo de jornais que até hoje continuam na ativa.

Um filme que precisa ser visto.




Tropicália (2012)
Logo do filme Tropicália, cena após a cena inicial do documentário. (BossaNovaFilms/2012).
Cena do filme Tropicália (BossaNovaFilms/2012).

O filme de Marcelo Machado é um ótimo exemplo de como aliar o cinema à necessidade de contar uma história que realmente existiu e que para alguns foi dolorosamente palpável, dilacerante.

O curto e delicioso longa (com o perdão do paradoxo das palavras) mostra de forma não linear o estouro do movimento tropicalista, seu fim, seu meio.

Através de imagens raras, sempre permeadas pelas vozes em off daqueles que participaram do movimento, vozes poéticas e de resistência, somos levados a embarcar numa imersão que nos faz abusar das capacidades sensoriais para compreender aquele período cheio de estupor criativo, vontade de viver, de resistir e de beber amargamente o cálice que era oferecido pela situação política do Brasil.




Uma Noite em 1967 (2010)
Mosaico dos artistas que se apresentaram no Festival de 1967.
Uma Noite em 1967/Divulgação.

Este documentário de Ricardo Calil e Renato Terra mostra um dos festivais de música mais marcantes da história cultural do Brasil.

O momento era a final do III Festival da Música Popular Brasileira da TV Record. A data era 21 de outubro de 1967. Os personagens bem reais eram Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Edu Lobo, Mutantes, Sérgio Ricardo, entre outros.

E o que faz deste documentário algo atraente para quem quer entender a época da Ditadura Militar no Brasil? 

Bem, se com esses nomes acima você ainda não está com vontade de ver, o filme traz imagens raríssimas, exemplos imagéticos contundentes do início do movimento tropicalista e da fragmentação política que se formava entre os artistas entre todo o caos social predominante no mundo durante o fim da década de 1960.




Os Doces Bárbaros (1976)

O registro feito por Jom Tom Azulay na década de 1970 é uma pérola para os olhos e ouvidos. Trazendo a música de 4 expoentes músicos brasileiros (Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia), através do grupo Doces Bárbaros, vemos como pano de fundo uma sociedade vivendo a conservadora ditadura militar brasileira.

E é só por isso esse filme está na lista? Claro que não.

O documentário mostra situações, entrevistas e apresentações que só poderiam ter acontecido durante o período da ditadura, sendo excelente para que a época estudada seja contextualizada de forma mais completa.

Como no caso da prisão de Gilberto Gil, o que poderia ter sido apenas um caso simples, mas que se transformou em algo de proporções inacreditáveis.



O Dia que Durou 21 Anos (2012)

Este documentário dirigido por Camilo Galli Tavares aborda, meio que acidentalmente, a influência do governo estadunidense no golpe militar que ocorreu no Brasil. 

Acidentalmente porque o filme contaria a história do pai de Tavares, jornalista militante contra a ditadura. Mas o diretor acabou tomando outros rumos quando descobriu que os Estados Unidos possuíam um vasto acervo documental sobre a queda de João GoulartE daí saiu a ideia de abordar a participação norte-americana no "dia que durou 21 anos".

Com entrevistas, filmagens históricas e opiniões de historiadores, o filme se compõe como um excelente material de apoio para o estudo sobre a época.




Manhã Cinzenta (1969)

Deixamos o filme mais explosivo (e esse é o adjetivo mais adequado para a obra de Olney São Paulo) para o final por motivos que vão se tornar óbvios quando você der o play no vídeo abaixo.

Olney foi perseguido, preso, torturado, censurado, mas mesmo assim conseguiu fazer com que seu filme, confiscado pelos militares, sobrevivessePara fugir da censura, o cineasta-militante enviou cópias para diversos festivais de cinema ao redor do mundo, o que também o levou para a prisão.

E é justamente através desse processo de enclausuramento e tortura que o filme aborda a Ditadura Militar no Brasil, encenada com toques realísticos, embora utilize alegorias que tornam tudo na tela um pouco estranho, mas não totalmente longe da realidade que o país vivia naquela época.

Glauber Rocha, grande entusiasta de Olney, dá o seu veredicto sobre o filme em Revolução do Cinema Novo:
Manhã cinzenta é o grande filmexplosão de 1967/8 e supera incontestavelmente os delírios pequeno-burgueses dos histéricos udigrudistas.
Ficou curioso? Então aproveite esse grande momento do cinema político brasileiro.



Bem, com toda a certeza desse mundo você conhece vários outros filmes que abordam o período do regime militar no Brasil. Então, aproveite o espaço dos comentários e troque conhecimento, para que cada vez mais um número maior de pessoas tenha acesso a obras que ficam perdidas entre as produções cinematográficas com maior investimento e quase nenhuma qualidade.



Equipe de produção do artigo:

Beatriz de Miranda Brusantin
Doutora em História Social pela Universidade Estadual de Campinas
Coordenação de Produção e Pesquisa Histórica

Bruno Henrique Brito Lopes
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Coordenação de Redação e Edição

Raphael Esteves de Almeida Jacinto
Graduando em História pela Universidade Católica de Pernambuco
Pesquisa e Produção de Texto

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9 Comentários

  1. Boa a matéria, mas faltou o filme "O que é isso companheiro?". Representante do Brasil no oscar em 95

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  2. golpe não tá, contra golpe! parece que não conhece a historia!

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  3. Falta vergonha dessa raça maldita que defende os terroristas, porque na verdade os bandidos e terroristas que lutavam para implantar uma ditadura do proletariado sequestrando, assaltando, explodindo bombas em aeroportos, sofreram um contra golpe e foram derrotados. O povo brasileiro vai conhecer a verdade e sentir NOJO de vocês que tentam a qualquer custo deturpar a história.

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    1. é verdade meu caro, continuam mentindo pra sociedade, contando uma história mentirosa e distorcida, mostrando apenas o lado esquerdista vitimista, mas a verdade está vindo à tona e a internet está nos ajudando nessa missão difícil de desmentir as falácias dos comunistas terroristas.

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  4. A maioria desses filmes demonizam o exército brasileiro, que apenas cumpriu seu papel que está na constituição brasileira de cuidar e manter a democracia, não houve "ditadura", não houve um "ditador" e depois que a situação do país se restabeleceu o exército devolveu o poder para o povo. Em ditaduras como em cuba, o poder se perpetua e qualquer oposição ou manifestação contra esse governo, é massacrada, como o que está ocorrendo hoje na Venezuela e é apoiado por Lula, Ciro Gomes, Haddad, Manuela D'ávila e companhia.

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