A Verdadeira "Primeira Guerra Mundial" - A Guerra dos Sete Anos (1754-1763)

Muitos historiadores consideram que a Guerra dos Sete Anos, conflito ocorrido na Europa, Na Índia e nas Américas, foi o primeiro conflito global que ocorreu na História Militar. Por ter ocorrido combates na Europa e em quase todas as colônias americanas e asiáticas dos combatentes no mundo de 1756.


Mapa das regiões envolvidas nos conflitos da Guerra dos Sete Anos. Em azul estão representados os territórios da Inglaterra, Portugal, Prússia e Hanover. Em Verde estão os territórios da França, Espanha, Áustria, Rússia, Suécia e outros estados germânicos (como Baviera e Hessen).

PS: não necessariamente ocorreram combates em TODAS as regiões marcadas aqui. Esse mapa apenas ilustra o tamanho das nações, reinos e impérios que se envolveram na Guerra dos Sete Anos.

1- Origens

Como se iniciou esse gigantesco conflito, que envolveu as principais nações europeias do século XVIII? Para isso devemos analisar o contexto Prússia-Áustria um momento anterior ao início da Guerra dos 7 Anos.

A Prússia e o Império Austríaco já haviam entrado em um conflito anterior à Guerra dos Sete anos, conhecido como Guerra de Sucessão Austríaca (1740-1748), onde a Prússia visava seu crescimento territorial e aumento da esfera de sua influência para com os outros estados germânicos. 


Quadro de Pierre Lenfant, de 1747, retratando a Batalha de Fontenoy, 1745, onde França (que lutava ao lado da Prússia) conseguiu, nessa vitória, expandir ainda mais seus domínios sobre os Países Baixos Austríacos.

Nesse momento, a Europa ainda era uma verdadeira bagunça de tratados e acordos políticos entre os países e sempre mudavam com frequência. Como exemplo é a França, que durante a Guerra de Sucessão Austríaca lutou ao lado da Prússia, mas na Guerra dos 7 Anos se aliou à Áustria, já que a Prússia havia se aliado à Inglaterra (mortal inimigo da França desde a Guerra dos 100 Anos).

Em resumo, a Áustria dos Habsburgos e seus aliados no momento perderam para a Prússia e seu aliados momentâneos. A Prússia recebeu territórios Austríacos pela sua vitória, o mais importante sendo a Silésia. A Áustria não esqueceria tão cedo as perdas territoriais que sofrera com essa guerra e, com certeza, estaria em busca de vingança numa guerra futura.


Quadro de Carl Röchling, de 1913, intitulado "Ataque da Infantaria Prussiana na Batalha de Hohenfriedeberg, 4 de Junho de 1745". A Batalha de Hohenfriedeberg foi uma grande vitória prussiana sobre as forças austríacas na Silésia.

O cenário político e militar europeu já estava montado, transformando um conflito regional, como a Guerra de Sucessão Austríaca, em uma escala muito maior, alastrando as lutas entre os conflitantes para suas colônias na Ásia e nas Américas.


2- O Início das hostilidades

O Tratado de Paz de Aix-la-Chapelle, que finalizou com a Guerra de Sucessão Austríaca, foi meramente uma trégua rápida, para que as nações envolvidas nesse conflito pudessem se preparar para o próximo.

A Imperatriz Austríaca Maria Teresa ainda estava determinada em recuperar a Silésia e os territórios perdidos para a Prússia. A Balança diplomática européia mudou novamente. A Inglaterra reconheceu a legitimidade da Prússia sobre os territórios tomados da Áustria, em troca de estabilidade em seus domínios em Hanover. Essa ação da Inglaterra obrigou a França, antiga inimiga da Áustria, a se aliar à Áustria dos Habsburgo em uma futura guerra contra a Prússia. 


Imperatriz Maria Teresa da Áustria. Quadro de Martin van Meytens, de 1959


Com a reafirmação de amizade e aliança da Rússia e da Saxônia para com a nova Aliança Franco-Austríaca, A Prússia enfrentaria uma desvantagem numérica impressionante. 

Frederico da Prússia sabia que estava em uma grande desvantagem numérica contra essa nova Coalizão. Porém, ele também sabia que demoraria muito tempo para as forças militares russas chegarem ao auxílio da Áustria e da Saxônia quando ocorresse um conflito maior. Exatamente por isso ele atacou primeiro.


Esse mapa mostra os primeiros movimentos da Guerra dos Sete Anos na Europa. As tropas prussianas, em azul, avançaram sobre a Boêmia Austríaca e sobre a Saxônia, mostradas no mapa na cor vermelha.

As lutas na Europa se concentrariam exatamente nessa região da Europa Central: Boêmia, Saxônia e Silésia. Com esse primeiro passo dado pela Prússia, as alianças e coalizões europeias começaram a se movimentar, dando à este conflito regional proporções globais.


4- Um Conflito Global

Como dito anteriormente, a Guerra dos Sete Anos tem uma característica singular, nunca antes vista pelas guerras. Ela foi a primeira a, verdadeiramente, se espalhar por 3 continentes diferentes:


Este pequeno mapa mostra onde ocorreram os principais conflitos da Guerra dos Sete Anos, em escala Global. Nas regiões marcadas com linhas roxas são as regiões onde as principais batalhas aconteceram.


  • América do Norte e Caribe: Os franceses e ingleses tem um histórico de guerras pelas colônias americanas. Eles já estavam em guerra entre si 2 anos antes de Frederico da Prússia começar sua "3ª Guerra Pela Silésia", na Europa Central. Os combates no continente americano são marcados principalmente pela participação dos nativos nas linhas de frente de ambos os lados. No Caribe, batalhas navais entre a Marinha Real Inglesa contra a Espanhola e a Francesa também eram constantes. Por fim, no final das hostilidades na América, em 1759, as colônias francesas de Quebec e Montreal (que formavam o Canadá), passou para domínio total do Reino Unido, sem contar que a esfera de influência dos ingleses no Caribe aumentou.
  • Índia: As lutas na Índia opuseram duas potências europeias e uma potencia regional. Tropas inglesas batalhavam contra tropas indianas do Império Mogol e seus aliados franceses, que haviam estabelecido uma colônia na área próxima a colônia britânica de Calcutta, no litoral oeste da Índia. No final do conflito a colônia francesa foi anexada pelos ingleses e o Império Mogol perdeu muito de sua influência nos reinos indianos ao sul, abrindo caminho, mais tarde, para uma total dominação inglesa do subcontinente indiano.
  • Europa: ao mesmo tempo em que as lutas na América do Norte, Caribe e Índia aconteciam, o principal teatro de operações da Guerra dos Sete Anos ocorria na Europa, por conta da quantidade de batalhas e países envolvidos. Combates ocorreram, como dito antes, nas Regiões da Silésia, Boêmia e Saxônia, regiões fronteiriças entre Prússia e Áustria. Porém isso não impediu que ocorressem combates em outras regiões, como em Portugal por exemplo. Aqui os combates demoraram a cessar, levando sete anos (1756 - 1763).

5- Consequências do Conflito:

A Guerra dos Sete Anos começou a mostrar sinais de que estava chegando ao fim em 1762, quando a Tsarina russa Elizabeth morreu e foi sucedida por Pedro III. Pedro, sendo um grande admirador das proezas militares de Frederico da Prússia, concordou em começar as conversações de paz entre Rússia e Prússia. Logo depois o Reino da Suécia, que se aliou a Áustria contra a Prússia, também se retirou do conflito, deixando Frederico livre para se concentrar especialmente em derrotar a Áustria e os exércitos franceses que estavam atacando os domínios prussianos na Europa Ocidental.

Gravura do Século XVIII de Frederico II, o Grande. Autor desconhecido.


Um exército anglo-prussiano comandado pelo Duque de Brunswick venceu os franceses na Batalha de Wilhelmstal, que ocorreu na região central de Hanover, território pertencente à família real inglesa. Com a derrota dos franceses me  Wilhelmstal e dos austríacos em Burkersdorf, em 21 de Junho, estava claro que os Prussianos ganhariam a guerra na Europa.

As nações envolvidas na fase final da guerra mostravam sinais de que estavam exauridos de tantas batalhas. Um armistício foi decretado e, em Fevereiro de 1763, o Tratado de Hubertusburgo foi assinado. O principal termo desse tratado de paz firmava que a Áustria reconheceria a soberania da Prússia sobre as regiões conquistadas anteriormente, sobretudo a Silésia, e que nunca mais tentaria conquistar essas regiões.

Apesar de ter sofrido pesadas baixar militares e destruição de cidades, A Prússia de Frederico II passou de um mero estado germânico para uma potência militar na Europa Continental, sendo um dos principais participantes das decisões diplomáticas e guerras europeias desde então. De 1763 até 1790, a Europa observaria um momentâneo período de paz, sendo abalada somente pelas Guerras Revolucionárias francesas. 

Sendo assim podemos afirmar que a Guerra dos Sete Anos foi, de fato, um conflito global, podendo ser considerado uma "Guerra Mundial", devido as dimensões que tomou. Graças a ela o cenário europeu estava formado para o surgimento de outro grande general, que até hoje é referência em academias militares pelo mundo devido a seu brilhantismo no campo de batalha, Napoleão Bonaparte.


Vídeos sobre o assunto:


Música alemã "Fredericus Rex", da época da Guerra dos Sete Anos. As imagens são de filmes e documentários sobre a Prússia do século XVIII

"Ascensão e Queda da Alemanha Prussiana". Vídeo com uma coletânea de mapas mostrando a "evolução" do território prussiano

Trailer do filme "O último dos Moicanos", história que se passa durante as guerras franco-inglesas na América do Norte, durante a Guerra dos Sete Anos

Vídeo "A Guerra dos Sete Anos", do canal do youtube "Crash Course", dedicado à fazer vídeos rápidos sobre várias temáticas didáticas: Física, Química, Literatura e História. Nesse Episódio John Green explica as peculiaridades da Guerra dos Sete Anos, uma guerra verdadeiramente "global"



Fontes:
Enciclopédia das Guerras - Conflitos Mundiais Através dos Tempos, por Adrian Gilbert
The Global Seven Years War 1754-1763, por Daniel A. Baugh
Portugal na Guerra dos Sete Anos, por Manuel Augusto Dias (http://goo.gl/EMOK2D)

Matheus Santos da Silveira
Professor de História formado pela PUCPR
Especialista em História Contemporânea e Relações Internacionais

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6 Comentários

  1. NÃO ADIANTA. Leio, leio e leio sobre a Guerra dos Sete Anos e não consigo entender :/ . Será que vocês não tem algo mais resumido, mais lacônico?

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    1. É simples Shaine. A guerra dos 7 anos é a mistura dos interesses das principais nações europeias: Prússia, Império Austríaco, a Rússia, Grã-Bretanha, Espanha e França. Cada um estava buscando um objetivo diferente. Por exemplo: A Prússia lutava contra a Áustria e a Rússia por posse de terra na Europa Central e do Leste; Grã-Bretanha, França e Espanha Brigavam por controle colonial (França e Inglaterra lutavam na Índia e nas Américas - e Espanha e Inglaterra Brigavam pelo controle dos mares e ilhas do Caribe). No fim, graças ao bom e velho "sistema de Alianças" entre esses países, lutas separadas se tornaram uma só, uma gigantesca guerra.

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  2. Oi onde consigo historiografia confiável para utilizar como bibliografia para contextualizar a guerra dos 7 anos?

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  3. Esqueceram de mencionar Portugal e o não menos importante teatro sul americano do conflito...No início da Guerra dos Sete Anos, os franceses e austríacos obtiveram importantes vitórias e o rei Luís XV procurou em 1761 estabelecer um pacto de família envolvendo todos os países governados pelos Bourbon e que deveriam guerrear do mesmo lado. Este pacto incluiria: França, Espanha, Portugal, Nápoles e Parma. Portugal, entretanto, não desejava participar da guerra e ganhava tempo. Diante de um ultimato das cortes francesa e espanhola, teve de tomar posição: colocou-se ao lado da Inglaterra, com a qual já tinha um abrangente acordo comercial desde 1703. Isso provocou a pronta invasão de Portugal pelas tropas espanholas. O marquês de Pombal, todo-poderoso ministro do rei D. José I, procurou revitalizar o exército português, cujos comandos eram ocupados por oficiais ingleses. Contratou o conde de Lippe, que morava em Londres, para organizar um exército forte, disciplinado, capaz de bem defender as fronteiras de Portugal e das colônias ultramarinas.
    Na América do Sul as coisas evoluíram com a invasão espanhola do Rio Grande do Sul e o descumprimento de acordos. O governador espanhol Dom Pedro de Cevallos, comandante de Buenos Aires, era um militar de grande valor e que defendia a vigência do Tratado de Tordesilhas (1494) após a suspensão do Tratado de Madrid (1750). Aproveitou-se da guerra na Europa para invadir o Rio Grande de São Pedro com um exército de seis mil homens. Na época, as forças portuguesas não chegavam a dois mil soldados para defesa de todo o território da Capitania de São Pedro. Cevallos tomou a Colônia do Sacramento, após cerco prolongado, em 1760. Avançou com seus homens pelo litoral, enquanto o comandante das Missões, D. Antônio Cattani, deveria marchar com forças regulares e mais dois mil índios para conquistar Rio Pardo. Este contingente foi derrotado pelo capitão riograndense Francisco Pinto Bandeira, de surpresa, muito antes que se aproximasse de Rio Pardo. Isso enfureceu Cevallos, que conquistou sem luta a fortaleza de Santa Teresa, derrotou os poucos defensores de São Miguel e chegou com facilidade a vila de Rio Grande, desamparada pelo capitão-general Ignácio Elói Madureira, que fugiu para Viamão levando tudo quanto conseguira juntar. Cevallos tomou posse de Rio Grande, avançou sobre São José do Norte e prosseguiu litoral acima até ser forçado a reconhecer o Tratado de Paris que pusera fim à guerra entre Espanha e Portugal. Sentindo-se forte, considerou que não conquistara terras, já que elas eram espanholas pelo tratado que lhe convinha. Apenas devolveu a Colônia do Sacramento, que poderia retomar quando quisesse. Conservou tudo o mais e o controle de rios e lagoas interiores, pois dominava seu desaguadouro. Só em 1776 os portugueses retomaram o território perdido e o fizeram com a ajuda de ativos participantes da Guerra dos Sete Anos. Mas esta já é uma outra história abrangente que envolve a Guerra da Independência das Colônias Inglesas da América do Norte.

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  4. Por que essa guerra não é considerada (ou foi) considerada a Primeira Grande Guerra?

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    1. Cara, fiquei na mesma dúvida, mas pensando rapidamente agora, imagino que seja pelo fato de, naquele momento, pouco importar às principais potências que os conflitos tivessem ocorrido em outros cantos dos quintais da Europa. A concepção que temos de mundo hoje, e que teremos na 1ª G.M., não existia nesse momento. EUA era colônia. Ásia e África eram territórios cheios de recursos a desbravar. Mesmo que tenha se espalhado a outros continentes, para os europeus do período, imagino eu, a Guerra dos 7 Anos não se diferenciava fundamentalmente das anteriores, uma vez que as nações "de verdade" envolvidas continuavam sendo europeias.

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