Egito: 12 fotos para compreender e se apaixonar de uma vez pela sua história

Soldados Britânicos e Indianos posam para foto com a Esfinge e Pirâmide em Gizé durante a Primeira Guerra Mundial.


É difícil encontrar quem goste de História e não seja fã da cultura egípcia. Poucas civilizações no mundo tiveram participação tão constante ao longo da história, tendo sido palco de inúmeros eventos históricos e deixando grande legado para a posteridade. O Egito fascina a humanidade em tantos contextos que seria muito pretensioso abordar sua totalidade em 12 fotos, esse artigo é uma pequena amostra de como essa civilização de milhares de anos ainda é capaz impressionar em plena Idade Contemporânea

O Egito já foi uma potência militar, foi foco de importantes tensões no mundo do poder, esteve na encruzilhada comercial entre o oriente e o mundo europeu. Foi a porta da África e um dos tesouros territoriais mais valiosos do Império Turco Otomano. Sua cultura possuiu religiões próprias, além de uma forma particular de cristianismo, um politeísmo que manteve laços com a cultura grega e nos últimos séculos se constituiu como nação islâmica.


A riqueza cultural egípcia é tamanha que transcendeu todos os povos que dominaram militarmente seu território. Assim, o Egito foi cenário e ator em inúmeros capítulos da história do mundo, desde milênios atrás, até a primavera árabe no século XXI.

As fotografias que selecionamos podem ajudar a compreender um pouco da formação e reinvenção do Egito ao longo dos séculos e milênios, participando da história e influenciando toda a humanidade. Mas não é só no campo científico que essas imagens são valiosas, são verdadeiras obras primas visuais que inspiram aqueles que sabem apreciar a oitava arte. 

(clique nas imagens para ampliar)

#2 - O lacre original da tumba do faraó

O lacre da tumbaPorta da tumbá do faraó Tutancâmon, ainda com o lacre original em 1922 quando foi descoberta por um grupo de arqueólogos britânicos.

A imagem acima é um verdadeiro achado para a arqueologia no Egito, que por muito tempo se deparou com inúmeras tumbas violadas e completamente vazias. Essa estava intacta: atrás da porta descansava um faraó cercado de riquezas e objetos de valor inestimável.

Acompanhando o lacre, como era de costume, escrituras alertavam que a morte estaria reservada àqueles que ousassem violar e saquear a tumba do faraó. E essa lenda ganhou força no imaginário ocidental à medida que foi confirmada a morte precoce de diversos membros da expedição responsável por violar o túmulo de Tutancâmon.


#3 - A torre islâmica em uma das cidades mais influentes do Império Turco-Otomano: Cairo

Minarete da Mesquita Al Azhar, Cairo, 1880.

Pensar num Egito Islâmico soa confuso na cabeça de quem costuma associar a região aos deuses com cabeças de animais. Mas o Egito dos dias de hoje já está sob controle islâmico desde do fim do Império Romano. 

A torre retratada na imagem é um Minarete: local em que o encarregado religioso anuncia as chamadas diárias à oração segundo a tradição islâmica.

Essa fotografia é valiosa primeiramente para ressaltar a cultura islâmica no Egito, mas também por se tratar de uma das mais antigas fotografias feitas naquela região.






#4 - O Imperador Dom Pedro II e sua corte na terra do faraó




Imperador Dom Pedro II e sua comitiva em Gizé, Egito, 1871 (Acervo da Biblioteca Nacional).

Mais antiga que a imagem anterior, a foto da visita de Dom Pedro II ao Egito é ainda mais curiosa. Interessado em egiptologia desde a infância, o Imperador brasileiro esteve no país e registrou toda a viagem em seu diário, que é hoje considerado pela UNESCO como Patrimônio da Memória do Mundo. Em um dos relatos, Pedro II descreveu o Egito como um país que não valorizava seu patrimônio histórico que apresentava "incrível vandalismo". 

Além dos relatos e fotos, o monarca trouxe ao Brasil inúmeros mapas, livros e artefatos históricos, incluindo uma múmia que ganhou de presente do líder soberano do país, Quediva Ismail. A coleção de Pedro II, somada aos itens adquiridos pelo seu pai, Dom Pedro I, formava o maior acervo egípcio da América Latina, contando com mais de 700 itens. Infelizmente a maior parte desse acervo foi perdida no incêndio do Museu Nacional em 2018.

#5 - O vendedor ambulante... de múmias!

Vendedor de Múmias no Egito, 1875 (Felix Bonfils).

Se você não levou a sério o relato de Dom Pedro II sobre o "incrível vandalismo", talvez essa foto lhe faça reconsiderar. No século 19 o Egito se tornou objeto da curiosidade europeia após as campanhas militares de Napoleão na região, e com essa curiosidade surgiu uma crença devastadora para as múmias do Egito: acreditava-se que a carne mumificada tinha propriedades medicinais.

Essa crença aqueceu o mercado negro que tratava de saquear tumbas para a venda de múmias inteiras ou mesmo fracionadas. O destino dessas peças era a completa violação: eram abertas e moídas para o consumo do seu pó.
#6 - O arqueólogo violando o sarcófago da múmia mais famosa da História

O arqueólogo Howard Carter examinando o sarcófago de Tutancâmon (Mansell/LIFE Pictures).

Simplesmente considerada por muitos como a mais importante descoberta arqueológica da história, a tumba do faraó Tutancâmon (a mesma do lacre na foto número 2) estava intacta quando foi revelada. No chão empoeirado ainda restavam as pegadas daqueles que foram os últimos a fechar a câmara mortuária há mais de 3 mil anos

"No começo, não pude ver nada, o ar quente escapando da câmara, causando a queima da vela cintilante, mas agora, quando meus olhos se acostumaram com a luz, os detalhes da sala emergiram lentamente da névoa, animais estranhos, estátuas e ouro – em todos os lugares o brilho do ouro.
(Howard Carter)

A história dessa descoberta inspirou filmes e personagens hollywoodianos ao longo de todo o século XX e até os dias de hoje, mas esse evento não ficou marcado somente pelos temores da Maldição de Tutancâmon. Os artefatos encontrados no local revelavam como deveriam ser as outras tumbas antes de serem saqueadas. A câmara estava repleta de objetos pessoais do faraó, como sua cama, chinelo banhado a ouro, vasos, maquetes, cadeiras em madeira maciça e ouro, muito ouro. Recentemente, em 2013, cientistas confirmaram que uma das adagas encontradas na câmara mortuária foi feita a partir da rocha de um meteorito.


#7 - As mulheres revolucionárias 
Mulheres islâmicas durante a Revolução de 1919
(Arquivo da Biblioteca de Alexandria).

Um país islâmico sob controle da Grã-Bretanha. Essa foi a realidade do Egito após a queda do Império Otomano no início do século XX. Combinação que resultou em uma revolução tão plural que pode deixar muita gente confusa: homens, mulheres, islâmicos e cristãos lutando lado a lado em nome da soberania do país. 

Pensar no mundo árabe, ou até mesmo no ocidente em 1919, pode refletir em mulheres sem participação política e muita intolerância religiosa, mas o que ocorreu no Egito naquele ano transcendeu tudo isso e desencadeou a independência do país em 1922.









#8 - A cidade egípcia que ficou no fundo do mar 
Arqueólogo subaquático explora ruínas da cidade egípcia de Heracleion, submersa há mais de 1200 anos (Franck Goddio/Hilti Foundation).

O passado do Egito é tão denso e remoto que suas escrituras registram eventos históricos em mais cidades do que a arqueologia é capaz de localizar. Muitos dos lugares citados permanecem com o título de "cidades perdidas". Isso se deve ao fato de que, além dos efeitos do tempo, do deserto e das pilhagens ao longo da história, algumas cidades foram simplesmente engolidas pelo Mar Mediterrâneo como consequência de abalos sísmicos. Esse é o caso de Heracleion, uma das cidades de entrada do Egito, que sumiu do mapa no Século 8 e só foi redescoberta no ano 2000.

#9 - O Egito na Segunda Guerra Mundial 
Cargueiro Militar do Exército dos EUA sobrevoa as Pirâmides de Gizé, no Egito, em outubro de 1943. (AP Photo).

A presença do Egito na Segunda Guerra Mundial não foi a primeira nem a última experiência em guerras da região. Desde os tempos mais remotos, há milhares de anos, o Egito já guerreava com potências adversárias na disputa por riquezas e pelo controle daquele que era e sempre será um território valioso do ponto de vista agrícola e comercial.

Às margens do rio mais extenso do mundo, irrigada por todos seus afluentes, a civilização egípcia prosperou mesmo estando no meio do deserto. Sua localização conectava o Europa Mediterrânea ao Oriente Próximo desde a Antiguidade como parte da Rota da Seda. Já no século 19 consolidou sua posição estratégica com a construção do Canal de Suez, que passou a permitir às embarcações alcançar o oriente sem realizar o contorno da África, tornando a viagem 7 mil quilômetros mais curta.

Na Segunda Guerra Mundial o controle do Norte da África era um objetivo especial não apenas pelo controle do acesso à Europa, mas também por conta de um novo protagonista no cenário global: o petróleo. Assim, o Canal de Suez e o Egito se tornaram objeto da cobiça dos dois lados do conflito. Entre 1940 e 1943 ocorreram diversas batalhas no país, incluindo disputas de tanques com verdadeiros campos minados no meio do Saara. As batalhas mais importantes ocorridas na região foram em El Alamein, onde os Aliados obtiveram importantes avanços na reconquista do Norte da África.


#10 - Cristãos à moda egípcia lutando ao lado dos islâmicos pela independência 
Cristãos coptas participam de manifestação durante a Revolução Egípcia de 1919 (Arquivo da Biblioteca de Alexandria).

A mesma revolução retratada na foto de número 7, agora em uma imagem que ilustra a diversidade religiosa do Egito. Trata-se de cristãos que seguem uma religião milenar que se desenvolveu em paralelo ao Catolicismo Romano e Ortodoxo. Os cristão coptas, como são conhecidos, têm o seu próprio papa e são uma minoria perseguida no país.


Um ponto interessante a se considerar quando se fala do cristianismo copta é que essa cultura e tradição remete a um Egito anterior à dominação Islâmica, controlado por Roma e descendente direto das etnias e tradições vividas nos tempos de Cleópatra. Esses vestígios da cultura egípcia pré-islâmica estão presentes em vários elementos do cristianismo copta, como a simbologia, linguagem e arte. 



#11 - O garoto egípcio com o ornamento de um faraó 
Menino egípcio usando joia encontrada na tumba de 
Tutancâmon, 1925 (Griffith Institute/Oxford University).

A foto desse garoto está carregada de significado, tanto para a arqueologia, quanto para egiptologia e para a sociedade civil como um todo. Sua importância se deve, em primeiro lugar, ao protagonismo do povo egípcio no resgate da própria história: Hussein, como se chamava o garoto, fazia parte da expedição arqueológica que encontrou a famosa e já citada tumba de Tutancâmon. 

Ele, como a maior parte da equipe que realizou as escavações, era nativo da região, sendo que a glória das descobertas acabou por esquecer dessas pessoas, guardando a memória daquela conquista apenas para os financiadores e intelectuais britânicos.
O outro elemento que torna essa fotografia especial é a própria cor da pele do garoto. Ele definitivamente não se assemelha ao esteriótipo egípcio branco retratado nas obras cinematográficas. O Egito, como a própria geografia acusa, foi, e ainda é, uma nação africana com sangue árabe e negro correndo nas veias de seus habitantes.  


#12 - A pintura ultrarealista de Napoleão diante da Esfinge 
"Bonaparte diante da Esfinge" Óleo sobre tela do pintor ultrarrealista francês Jean-León Gérôme, 1868 (Acervo Art Renewal Center).


Apesar de não ser uma fotografia, a perfeição do trabalho desse pintor merece ser exposta e exaltada. Trata-se de Napoleão Bonaparte diante da Esfinge durante sua famosa expedição realizada no Egito entre 1798 e 1801. Esse foi um episódio interessante na construção do Egito contemporâneo. Napoleão trouxe ao Egito os pensamentos da Revolução Francesa, e o Egito deu a Napoleão sua imensa riqueza cultural. Foi nesse período que Napoleão adquiriu boa parte do acervo de obras egípcias que estão até hoje expostas no Museu do Louvre.


Ainda sobre a passagem de Napoleão pelo Egito, existe uma lenda relacionada ao vandalismo realizado na Esfinge. É dito que o nariz da Esfinge teria sido destruído pelas tropas francesas que o teriam utilizado para prática de tiro ao alvo. Essa versão de como a Esfinge perdeu o nariz já foi desmentida, visto que há ilustrações da Esfinge anteriores à passagem napoleônica que já a retratavam sem o nariz. 



Fontes:  

MULLER, Hans Wolfgang; CRESCIMBENE, Simonetta. Egito. (Tradução de Leila Mascioli). São Paulo: Manole, 1998. CARTER, Howard e MACE, A.C. A Descoberta da Tumba de Tutankhamon. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2004.
ALEXANDER, Anne. Nasser. Haus Publishing, 2005.
AMIN, Galal. Whatever happened to the Egyptians?. The American University in Cairo Press, 2001.
FAHMY, Ziad. Ordinary Egyptians. The American University in Cairo Press, 2011.

http://hypescience.com/fotos-cidade-egipcia-engolida-pelo-mar-e-redescoberta-depois-de-1-200-anos/
https://www.haaretz.com/middle-east-news/egypt/.premium-shattering-the-myth-about-egyptian-elites-supporting-the-nazis-in-wwii-1.6264715
https://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-2336723/Ancient-Egyptian-city-lost-1-200-years-begins-reveal-secrets.html
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45452478
https://rarehistoricalphotos.com/egyptian-mummy-seller-1865/
https://www.dw.com/pt-002/%C3%A1frica-na-segunda-guerra-mundial-um-cap%C3%ADtulo-esquecido/a-18437591
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2016/06/adaga-de-tutancamon-era-feita-de-ferro-de-meteorito-diz-estudo.html
https://www.franckgoddio.org/library/in-the-media.html

Bruno Henrique Brito Lopes 
Graduado em História pela Universidade Católica de Pernambuco. 

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